quarta-feira, 31 de agosto de 2011

UM RASGÃO NA CAMISA

Nestas férias tive um neto a passar uns dias comigo. Naturalmente que tomei a meu cargo tratar das roupas dele. E foi justamente quando as dobrava para guardar na gaveta que descobri uma t-shirt ainda em muito bom estado, mas com um grande rasgão em L no meio das costas. “ Que pena!”, pensei e vai daí pus-me a cozer o rasgão. Confesso que me esforcei para que ficasse obra perfeita. Perfeita não terá ficado realmente, mas mesmo assim ficou bastante bem.
No fim da semana o meu neto partiu para um acampamento levando com ele uma mochila cheia de roupa no meio da qual, como vim a constatar mais tarde, embarcou a famigerada t-shirt. No regresso do acampamento ele voltou para a minha casa. Foi então que uma certa tarde ele me interpelou.
- Avó, foste tu que cozeste a minha t-shirt?
- Fui. Porquê?
Então ele meio encabulado foi dizendo:
- Estava muito bem cozida. Mas, sabes, eu gostava mais dela rasgada:
- Ai é? - espantei-me eu.
- É que tem uma espécie de significado.
Sorri por dentro e pensei para comigo “ Estás muito longe destes adolescentes. O teu mundo é outro.”

E é mesmo. Como posso querer avaliar os seus costumes, os seus gostos, a sua moral se entre mim e eles medeiam décadas? Por muito que me esforce por me manter actual, não há dúvida que os parâmetros são outros e as minhas avaliações são forçosamente diferentes das deles. Isso provoca por vezes um certo desconforto, quiçá alguma injustiça. E então agora que tudo mudo a uma velocidade estonteante! Ou será que os adultos “do meu tempo” experimentaram as mesmas dificuldades? A mim parece-me que nessa altura tudo mudava muito mais devagar do que agora e que não havia as discrepâncias que existem hoje entre o pensar dos velhos e o pensar dos mais novos. Mas se calhar é apenas um erro de perspectiva.
Soluções? Nenhumas. Salvo aprender a relativizar valores sociais que são hoje diferentes dos de ontem e serão com certeza diferentes dos de amanhã.